O arquiteto japonês Riken Yamamoto foi o laureado com o
Profundo defensor da vida comunitária, Yamamoto afirma que o valor da privacidade se tornou uma sensibilidade urbana, quando na verdade, os membros de uma comunidade deveriam sustentar-se uns aos outros. Ele define comunidade como um “senso de partilha de um espaço”, desconstruindo noções tradicionais de liberdade e privacidade, ao mesmo tempo que rejeita condições de longa data que reduziram a habitação a uma mercadoria sem relação com a vizinhança. Em vez disso, ele une culturas, histórias e cidadãos multigeracionais, com sensibilidade, adaptando a influência internacional e a arquitetura modernista às necessidades do futuro, permitindo que a vida prospere.
“Para mim, reconhecer o espaço é reconhecer uma comunidade inteira”, expressa Yamamoto. “A abordagem arquitetônica atual enfatiza a privacidade, negando a necessidade de relações sociais. No entanto, ainda podemos honrar a liberdade individual de cada um enquanto vivemos juntos no espaço arquitetônico como uma república, promovendo a harmonia entre culturas e fases da vida.”
O Júri do Pritzker ainda destaca que ele foi selecionado “por nos lembrar que, na arquitetura, assim como na democracia, os espaços devem ser criados pela determinação das pessoas”. Ao reconsiderar a fronteira como um espaço, Yamamoto ativa o limiar entre a vida pública e a privada, alcançando o valor social em cada projeto, com locais para engajamento e oportunidade de encontros.
A obra de Riken Yamamoto
Obras construídas em pequena e grande escala demonstram as qualidades de seus próprios espaços e privilegiam a vida que acontece em seu interior. A transparência é utilizada para que aqueles de dentro possam experimentar o ambiente que está além, enquanto aqueles que passam do lado de fora podem sentir uma sensação de pertencer.
Yamamoto desenvolveu seu trabalho a partir das influências da tradicional machiya japonesa e da habitação oikos grega, casas que se já relacionavam com cidades, numa época quando a conectividade e o comércio eram essenciais para a vitalidade de cada família. Ele projetou sua própria casa, GAZEBO (Yokohama, Japão, 1986) para invocar a interação com vizinhos a partir dos terraços e telhados. Já a Casa Ishii (Kawasaki, Japão, 1978), construída para dois artistas, apresenta uma sala em forma de pavilhão, que se estende ao ar livre e serve de palco para apresentações, enquanto os alojamentos estão embutidos abaixo.
“Yamamoto desenvolve uma nova linguagem arquitetônica que não cria apenas espaços para famílias viverem, mas cria comunidades para as famílias viverem juntas”, diz Tom Pritzker, presidente do Hyatt Fundação, que patrocina o prêmio. “Suas obras estão sempre conectadas à sociedade, cultivando uma generosidade em espírito e honrando o momento humano.”
Seus grandes projetos habitacionais também incorporam elementos relacionais, garantindo que mesmo os residentes que moram sozinhos, não vivam isolado. O Pangyo Housing (Seongnam, Coreia do Sul, 2010) é um complexo de nove blocos habitacionais baixos, que foi projetado com piso térreo transparente e volumes que catalisam a interconectividade entre vizinhos. Um deck comum em todo o segundo piso incentiva a interação, contando com espaços de convívio, playgrounds, jardins e pontes que conectam um bloco habitacional a outro.
O Corpo de Bombeiros de Hiroshima Nishi (Hiroshima, Japão, 2000) parece totalmente transparente com sua fachada com persianas de vidro e paredes interiores também de vidro. Visitantes e transeuntes podem ver através no átrio central para testemunhar a atividade diária e o treinamento dos bombeiros, e são incentivados a conhecer os funcionários públicos que os protegem nas diversas áreas públicas do edifício.
Já a Fussa City Hall (Tóquio, Japão, 2008) foi concebida como duas torres de altura média, em vez de um arranha-céu, para complementar a vizinhança de prédios baixos. As bases côncavas convida o visitante a se reclinar e descansar, enquanto os telhados públicos verdes e os níveis mais baixos são designados para programações públicas.
A Universidade da Provínvia de Saitama (Koshigaya, Japão, 1999), especializada em enfermagem e saúde ciências, é composta por nove edifícios ligados por terraços que transitam em passarelas, levando a volumes transparentes que permitem vistas não só de uma sala de aula para outra, mas também de de um edifício para o outro, incentivando a aprendizagem interdisciplinar. Essa comunhão é promovida mesmo nas gerações mais jovens da Escola Primária Koyasu (Yokohama, Japão, 2018), que apresenta terraços generosos e indivisos que ampliam os espaços de aprendizagem, permitindo vistas de e para cada sala de aula e incentivando o relacionamento entre os alunos de todas as séries.
A experiência do usuário foi considerada em primeiro lugar no Museu de Arte de Yokosuka (Yokosuka, Japão, 2006): enquanto a convidativa entrada evoca a baía de Tóquio e as montanhas próximas, muitas das galerias são subterrâneas, proporcionando a quem se aproxima uma visão visual clara e experiência da geografia natural.
Sua carreira se estende por cinco décadas e seus projetos, que vão desde residências particulares até habitação pública, escolas primárias a edifícios universitários, instituições a espaços cívicos e planejamento urbano, estão localizados em todo o Japão, República Popular da China, República da Coreia e Suíça.