Loft com peças garimpadas é inspirado pela natureza e minimalismo
“O poder da natureza é algo que não podemos controlar, mas a relação com ela sim”. Esta é a mensagem que os arquitetos Fernanda Carminate, Luiza Baeta e Pedro Kastrup, da PKB Arquitetura pretendem transmitir através da Casa Essência, na CASACOR Rio 2024.
O espaço de 170 m² foi projetado como um loft de uso residencial para uma moradora fictícia – uma psicanalista na faixa dos 55 anos –, trazendo para a mostra uma arquitetura solar, de alma carioca, com decoração elegante e, ao mesmo tempo, despojada e despretensiosa. A partir desse perfil, foi criado um lar com o conceito do “mínimo essencial e afetivo”, incorporando peças que remetem a móveis de família e itens de produção garimpados pelo centro do Rio de Janeiro em feiras na Rua do Senado e na Praça XV, que representam as memórias e os acontecimentos na vida dessa personagem.
“A ideia de não preencher todos os nichos com produção foi justamente para mostrar que não precisamos de excesso, precisamos de pertencimento. Não acreditamos no minimalismo puro e vazio, mas sim no conceito de minimalismo como algo com curadoria, significado, sem modismos”, explica Fernanda.
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O trio de arquitetos também concebeu o projeto de forma a transmitir uma mensagem à sociedade, como um alerta para o futuro. “Desde a divulgação do tema ‘De presente, o agora’, nos questionamos: o que mais nos preocupa no presente? Os desastres ambientais estão cada vez mais recorrentes e próximos de todos nós”, pondera Pedro Kastrup.
“Nós, da PKB Arquitetura, temos a Natureza como força de inspiração, com suas texturas, cores e formas. Acreditamos que arquitetura e natureza são indissociáveis. Vida e natureza são indissociáveis. Então por que não zelamos por ela? Por que não a protegemos? Acreditamos que a arquitetura pode ser um palco para essas mudanças e questionamentos”, considera o arquiteto.
Para trazer essa abordagem para a CASACOR Rio, o escritório setorizou a Casa Essência em três narrativas. “Ao se aproximar do acesso, temos o eixo conceitual, com um túnel escuro com textura remetendo à terra, onde é destacada a frase ‘pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro’, do historiador grego Heródoto”, conta Luiza Baeta.
Ao final deste eixo, o espaço se abre com umespelho d’água de forma orgânica que parece invadir a sala, revestido em Quartzito Appia, material de aspecto manchado escolhido a dedo para representar a lama, a terra e a poluição. Logo ao lado, a escultura de Caio Marcolini e a fotografia de Christian Cravo da exposição Mariana (que retrata as memórias de uma das maiores tragédias ambientais do país, com o rompimento da barragem de Fundão, Minas Gerais, em 2015), reforçam a proposta de conscientização ambiental do projeto, bem como a escultura de mesa.
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“Um n(ovo) dia”, da Monterraro Estudio – os designers Antonio Crestani e Pâmela Oliveira, da cidade de Canoas, perderam casa e ateliê nas enchentes do Rio Grande do Sul, no início do ano. As esculturas, feitas de madeira e casca de ovo, simbolizam seu recomeço.
Esse segundo setor representa o poder da natureza e a sua presença em tudo que é feito pelo homem, como matéria-prima. “Nossa inspiração vem da natureza e nossa materialidade também. Precisamos estar juntos para contar uma história, para existir”, acredita Baeta. “Essa percepção se estende para o terceiro eixo, marcado por um elemento que chamamos de ‘mãos dadas’ – um painel de marcenaria feito a partir de pedaços de madeira com encaixes artesanais, posicionados com um trançado que remete à união do homem e da natureza, demarcando a área do quarto”, acrescenta a arquiteta Fernanda Carminate.
Para a composição dos ambientes, o escritório valorizou o significado dos materiais, como o piso de pastilha com 5x5cm, em referência à arquitetura moderna, e o assoalho de madeira do quarto, descoberto durante as obras e recuperado. Ainda no quarto, um armário Chipandelle faz referência aos móveis de família.
No banheiro, com texturas da Coral, as curvas setorizam e dão privacidade aos usos do espaço. Também se destacam o sofá Tonico, de Sergio Rodrigues (lançamento do Arquivo Contemporâneo), e itens do projeto “O que Dizem as Águas”, coletivo de artesãos e produtores da foz do Rio Doce, também impactados pelo rompimento da barragem em Mariana (MG), com curadoria do estilista Ronaldo Fraga.