Localizado no bairro da Vila Madalena em São Paulo, o projeto para o Restaurante Cajuí, assinado pelo escritório VAGA Arquitetura, foi inspirado nos conceitos da culinária do restaurante – que passam pelo uso de ingredientes naturais nos pratos e a premissa de ser acessível a todos — e na construção preexistente.
O nome do restaurante faz referência ao pequeno fruto da família do caju, nativo do cerrado brasileiro, – o cajuí -, e foi escolhido para representar uma das causas apoiadas pelos proprietários: o alerta para o desmatamento neste bioma tão rico em biodiversidade. Além disso, a temática inspirou o desenvolvimento da nova concepção arquitetônica do espaço.
Dessa forma, durante o processo do projeto de arquitetura, foram enaltecidas a interação entre luz e cor, de forma que a incidência da iluminação natural sobre os materiais e tonalidades empregadas no espaço remetesse à atmosfera do cerrado brasileiro.
Assim, a relação estabelecida entre a arquitetura e a natureza foi zelada durante todo o processo de criação, sendo considerada em todas as decisões projetuais, até mesmo na concepção das luminárias pendentes, produzidas em conjunto com uma ceramista, que funcionam como vasos suspensos.
O acentuado aclive presente logo no acesso ao imóvel até o fundo do lote e a escuridão do imóvel estreito, praticamente coberto em sua totalidade, indicavam os desafios físicos inaugurais para a implementação do conceito da arquitetura.
Com a intenção de seguir as premissas do cliente de evitar grandes intervenções no imóvel, o espaço foi dividido em duas zonas, através de um volume baixo que contém um banheiro e o bar.
Com a proposta de ser um ambiente inclusivo e acessível a todos, foi instalada uma plataforma elevatória a partir do nível da calçada até o primeiro platô, que garante a acessibilidade ao salão inferior, bar e sanitário. As escadas foram concentradas em locais estratégicos para vencer o desnível de forma gradual, reduzindo os platôs preexistentes e proporcionando uma circulação mais fluida e intuitiva.
A situação precária da construção anterior, feita em alvenaria envolvida por estruturas provisórias, pedia uma solução estratégica. Por esse motivo, os arquitetos concentraram as principais modificações em novas estruturas auxiliares de madeira, anexas à edificação preexistente.
Esses elementos servem como um abrigo, ao mesmo tempo que são responsáveis pela transmissão de luz natural, permitindo uma interação entre o interior e exterior.
Uma telha translúcida permite a entrada de luz natural que, filtrada pelo forro de juta orgânica, influencia diretamente na coloração do ambiente nos diferentes momentos do dia.
O piso de cimento queimado com pigmentação vermelha, além de remeter ao solo do cerrado, age em harmonia com a luz natural que entra no ambiente. As paredes brancas absorvem as cores terrosas usadas no projeto e ajudam a transmitir a atmosfera desejada.
Durante a obra, o escritório garantiu que grade parte dos resíduos gerados fossem reutilizados na própria obra, seja para o deck da área de espera, seja para o enchimento dos pisos ou para o forro de bambu ao fundo do restaurante.
Ao fundo, junto à área para funcionários, foram construídos grandes canteiros para cultivar os principais ingredientes usados no dia a dia do restaurante. O paisagismo complementa o projeto arquitetônico em todos os ambientes, como um elemento que vai além do decorativo, sendo funcional e encarado como parte integrante do funcionamento cotidiano do restaurante.